As “scenas da escravidão” de angelo agostini
Gilberto Maringoni
[pic]
Quase desconhecidos, quadrinhos do artista italiano, produzidos há mais de 110 anos revivem a brutalidade do cotidiano escravocrata
(Publicado no caderno Mais!, FSP, 26 de julho de 1998)
[pic]
VOCÊ TEM NESTAS páginas algumas imagens únicas. Elas retratam, com uma crueza nunca vista , o cotidiano de torturas, mutilações e assassinatos cometidos contra os escravos, pouco antes da assinatura da Lei Áurea, em 1888. O autor dos desenhos e do texto – quase um documentário televisivo da escravidão – é o italiano Angelo Agostini (1843-1910), que veio para o Brasil ainda adolescente, fundou uma série de jornais ilustrados, foi um dos pioneiros mundiais das histórias em quadrinhos e integrou-se de corpo e alma nas campanhas abolicionista e republicana. Se as imagens que chegaram até nós do final do período colonial têm em Debret e Rugendas seus principais autores, o registro visual das duas décadas e meia que precederam a República encontram em Agostini sua mais perfeita tradução. Com uma diferença: quase ninguém conhece a obra do italiano. Fragmentos de seu trabalho são de vez em quando reproduzidos aqui e ali, em livros de história. Mas sua produção mais contundente, as “Scenas da escravidão”, que surpreenderam a corte e as províncias, foram publicadas na época até nos Estados Unidos e são mencionadas com admiração por Monteiro Lobato e Nelson Werneck Sodré, é quase desconhecida hoje em dia[i]. Herman Lima refere-se rapidamente a estas páginas em seu clássico História da Caricatura no Brasil, comparando-as às “torturas que somente seriam revividas 70 anos depois, nos campos de concentração do nazismo”[ii]. [pic]
As imagens e os textos são auto-explicativos. Revelam casos documentados, com data, nome e sobrenome de quem participou das atrocidades. Foram produzidos numa época em que a campanha abolicionista exercia “sua sedução