As Reflexoes Do Poeta Os Lusiadas
Textos Informativos Complementares
SEQUÊNCIA 2
EXP12 © Porto Editora
As ref lexões do poeta n’Os Lusíadas
– o declínio do Império
Para além dos planos narrativos que constituem a epopeia, encontramos um outro plano que diz respeito às reflexões do poeta a propósito de diferentes assuntos que têm lugar ao longo da narração. Estas reflexões constituem a visão do poeta renascentista em relação à própria condição humana, o que serve, por vezes, a construção do herói do poema, que supera todas as provações e será premiado pelo seu esforço e valentia, na Ilha dos Amores, espaço simbólico de recompensa pela conclusão de um percurso glorioso.
O poeta revela também a sua perspetiva em relação a uma fase do Império Português e aos valores dominantes no país, num momento em que o brilho das grandes navegações começava a ser ofuscado pelo materialismo que grassava no reino, pela indiferença pela arte e pela cultura; o poeta manifesta ainda o seu desalento pelo desprezo a que a sua epopeia era votada.
Vejamos, então, os aspetos que dominam a atenção do autor da epopeia nacional e merecem a sua intervenção, numa expressão da sua mundividência ao longo dos dez cantos que integram o poema épico camoniano.
No final do Canto I (est. 105-106), o poeta apresenta as suas reflexões sobre a insegurança da vida, na sequência de uma síntese da situação narrativa (quatro primeiros versos da est. 105) centrada na traição de que os portugueses foram vítimas (Baco preparara-lhes várias ciladas, entre elas, um piloto que conduziria os portugueses ao porto de Quíloa, onde eram esperados por inimigos; Vénus afastou a armada do perigo e os portugueses retomaram o seu caminho até Mombaça).
As reflexões do poeta sobre a fragilidade da vida, sobre a tragicidade que se encontra subjacente à própria condição humana evidenciam o carácter humanista da epopeia e servem a arquitetura semântica da obra.
No Canto V (est. 92-100), o poeta censura os portugueses que