As raças

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Universidade de São Paulo
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
Área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
Curso: Clássicos da Literatura e Cultura nos Países de Língua Portuguesa
Profs. Drs. Benjamin Abdala Jr. e Tânia C. Macedo.
Aluno: Antonio Silvio Sampaio Dória

AS RAÇAS

A raça — mas o que é a raça? A resposta a essa pergunta varia de acordo com a época e o lugar, e provavelmente nesta equação a época tem um peso maior do que o lugar, devido à circulação/importação de idéias em torno do planeta, pelo menos na parte de cá, o Ocidente. Nos últimos 150 anos, podemos observar uma radical transformação nas visões a respeito do assunto, a ponto de se ter chegado a uma ‘inversão’ das proposições iniciais. Em 1853 Arthur de Gobineau publica o Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, em 4 volumes, cujo título é bastante esclarecedor a respeito do conteúdo. É curioso o fato de que, tendo já sida a escravidão abolida na maioria dos países ocidentais, intelectuais como o francês Gobineau ainda dedicassem tempo e esforço consideráveis para reforçar ou comprovar a idéia da superioridade de uma raça em relação à outra. Pode-se explicar o fato pelo Colonialismo, e pela crescente competição entre os países (Nacionalismo), que culminaria na Primeira Guerra, mas, por outro lado, parece haver ‘algo mais’ em jogo. Algo que poderia estar ligado à própria abolição. Gobineau teve a oportunidade de vir ao Brasil (em 1869) e reafirmar os seus pontos de vista. Seduzido pela vegetação, espantado com certos costumes, não perde a oportunidade de lamentar a constituição mestiça do povo:

Nenhum brasileiro é de sangue puro; as combinações dos casamentos entre brancos, indígenas e negros multiplicaram-se a tal ponto que os matizes da carnação são inúmeros, e tudo isso produziu, nas classes baixas e nas altas, uma degenerescência do mais triste aspecto.[1]