As praias da jamaica
Estranho aos cânones mais familiares das reportagens de viagens será começar por arregimentar citações de um livro tão polémico como «As veias abertas da América Latina», do argentino Eduardo Galeano. Mas o caso é que nenhum retrato da Jamaica - como de outros países das Caraíbas e das Antilhas - pode dispensar a história da monocultura intensiva da cana do açúcar no Novo Continente, iniciada no século XVII, e do seu papel no processo de acumulação de riqueza das potências coloniais.
“O longo ciclo do açúcar deu origem, na América Latina, a prosperidades tão mortais como as que engendraram, em Potosí, Ouro Preto, Zacatecas e Guanajuato, os furores da prata e do ouro; ao mesmo tempo, impulsionou com força decisiva, directa ou indirectamente, o desenvolvimento industrial da Holanda, França, Inglaterra e Estados Unidos”.
O açúcar, que ainda é, actualmente, e a par da exploração da bauxite e do turismo, uma das principais fontes de receita da Jamaica, marcou as dimensões económica e social de quase todos os países das Caraíbas.
Dizimados os autóctones, os índios Arawak, no abrir e fechar de olhos de um século, foi por causa da exploração do “ouro branco”, e não só, que “imensas legiões de escravos vieram de África para proporcionar ao rei açúcar a força de trabalho numerosa e gratuita que exigia: combustível humano para queimar”. No dealbar do século XVIII, a Jamaica acolhia já dez vezes mais escravos do que colonos brancos.
São esta história e este quadro humano que estão na origem das realidades social e cultural jamaicanas, com as suas impressivas manifestações de africanismo, de reggae, de sincretismo religioso como o culto rastafarian, expressões culturais de uma população maioritariamente de origem africana (75%) e mestiça (15%).
Ochos Rios, em busca de águas cristalinas e recifes de coral
“The sun is shinning, the weather is clear...” - o clássico de Bob Marley soa insistentemente por toda a parte numa espécie de redundância