As perguntas da vida de fernando savater ( capitulo 2, as verdades da razao )
As verdades da razão
A morte, com sua urgência, despertou meu apetite de saber coisas sobre a vida. Quero dar resposta a mil perguntas sobre mim mesmo, sobre os outros, sobre o mundo que nos cerca, sobre os outros seres vivos ou inanimados, sobre como viver melhor: pergunto-me o que significa toda essa confusão em que estou metido uma confusão necessariamente mortal - e como posso me virar nela. Todas essas interrogações me assaltam sempre de novo; procuro sacudi-las de mim, rir-me delas, aturdir-me para não pensar, mas elas voltam com insistência depois de breves momentos de trégua. E ainda bem que voltam! Pois se não voltassem seria sinal de que a notícia de minha morte só teria servido para me assustar, de que em certo sentido já estou morto, de que só sou capaz de esconder a cabeça debaixo dos lençóis em vez de utilizá-la. Querer saber, querer pensar: isso equivale a querer estar verdadeiramente vivo. Vivo em face da morte, não estonteado e anestesiado a esperá-la.
Bem, tenho muitas perguntas sobre a vida. Mas há uma anterior a todas elas, fundamental: como responder-lhes, mesmo que de modo parcial? A pergunta anterior a todas é: como responderei às perguntas que a vida me sugere? E, se não puder responder-lhes convincentemente, como conseguirei entendê-las melhor? Às vezes entender melhor o que se pergunta já é quase uma resposta. Pergunto o que não sei, o que ainda não sei, o que talvez nunca chegue a saber, e às vezes até nem sei exatamente o que estou perguntando. Em re-
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27 sumo, a primeira de todas as perguntas a que devo tentar responder é esta: como chegarei a saber o que não sei? Ou talvez: como posso saber o que é que eu quero saber?, o que estou buscando ao perguntar?, de onde me pode vir uma resposta mais ou menos válida?
Para começar, a pergunta nunca pode nascer da pura ignorância. Se eu não soubesse nada, ou pelo menos não acreditasse saber alguma coisa, nem
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