As mãos missionárias do Pai
(O Lábaro; jornal da Diocese de Taubaté; Out/Nov. 2013; pp. 10-11)
No século II da era cristã, Santo Ireneu de Lião, numa maravilhosa intuição místico-teológica, afirmava que o Filho e o Espírito Santo são “as duas mãos com as quais Deus Pai age no mundo”. Partimos dessa sua inspirada afirmação para tecer esta nossa reflexão sobre a missão da Igreja.
Uma das intuições mais fundamentais do Concílio Vaticano II, que marcou época porque representou um esforço de fazer a Igreja voltar às suas fontes, foi a redescoberta da dimensão missionária de todos os batizados.
Podemos dizer que, no Concílio, o Decreto Ad Gentes, que trata sobre a atividade missionária da Igreja, foi um dos documentos conciliares mais debatidos e reformulados (passou por oito redações!). Isso é compreensível se, à luz das palavras de Paulo VI, na Exortação Evangellii Nuntiandi, entendemos que a missão constitui o próprio ser e identidade da Igreja: ou ela é missionária ou não será a Igreja de Jesus Cristo! Ela existe para a missão!
Deus, em Seu “amor fontal”, mesmo sendo Aquele “que habita uma luz inacessível” (1Tm 6,16), deseja ardentemente estar e viver em comunhão com suas criaturas. Toda a Bíblia relata a aventura desse Seu desejo incontrolável, que o Concílio interpreta como um desejo que se torna “desígnio de Deus Pai”, e que assim desencadeia toda uma corrente missionária. Portanto, tudo começa assim: o Pai que, deseja ardentemente fazer-se presente em comunhão no mundo, cria a missão, e o faz de duas maneiras fundamentais: através do Filho e do Seu Espírito Santo, as “duas mãos do Pai”, no dizer de Santo Ireneu. O primeiro se faz missionário pela encarnação no seio de Maria, e o segundo, pela habitação no interior de cada batizado, de cada pessoa que faz e vive o bem, assim como no âmago de todas as realidades criadas. Portanto, missão é a ação das duas mãos com as quais a Santíssima trindade trinitária se autocomunica em nosso mundo. Ação trinitária