As filha
Prefácio. (Acordes de ponteio de viola nordestina)
Sim senhor, aconteceu no interior do Ceará, acredite se quiser, lá pros fundos da Chapada do Araripe, vale do Cariri, município de Barbálha, onde viveram as protagonistas desse farrancho de Cordel que ora passo a relatar!
Era uma vez três irmãs que herdaram de Mãinha a arte das rendeiras, três talentosas mulheres rendeiras cujo registro de pia deu-se na Igreja do padroeiro Santo Antônio, o casamenteiro, registradas no Cartório da cidade de Barbálha, propriedade do senhor doutor, Jacinto Pinto, e por ordem de nascença seguem-se os nomes das três ditas: Sólinda, morena primogênita, Tôlinda, negra adotiva e a caçula raspa de tacho, Élinda. Filhas da mesma mãe Mãinha cujo pais são todos desiguais. Prole pequena pra uma mulher sangue quente, saco roxo, todavia, fraca em demasia de ventre; Mãinha era ruim de segurar cria, quase nenhuma, somente duas, as acima citadas. Que Mãinha furuncou nesse sertão isso ela furuncou demais. Olha, esse menino, tô pra dizer o seguinte: o que Mãinha engoliu de sertanejo nessa vida, eu não bebi de água.
Deixando Mãinha um pouco de lado com seus mil namorados, vamos nos ater nas três manas que viviam até que bem para a pouca grana que cai nas mãos dos brasileiros. Sólinda, Tôlinda e Élinda eram boas rendeiras, vendiam toda a produção de renda de panos correndo as festas e feiras da região.
Sólinda, Tôlinda e Élinda, viram o tempo passar nas batidas das asas da graúna e quando se deram conta estavam, digamos, a beira dos desesperos, mordendo parede, matando cachorro a grito, querendo fazer o mesmo carreto que Mãinha fez com os sertanejos nos desertos canaviais.