As estruturas elementares do parentesco - resenha de simone de beauvoir
Simone de Beauvoir A análise de Simone de Beauvoir sobre as Estruturas Elementares do Parentesco foi uma das poucas resenhas publicadas à época do lançamento de um dos maiores clássicos da antropologia do século XX. A idéia de traduzi-la partiu inicialmente de Marcos Lanna, quando ainda professor do Departamento de Antropologia da UFPR. O comentário de Mauro W. Barbosa de Almeida que acompanha esse pequeno texto permite apreciar a vigorosa atualidade da reflexão de Simone de Beauvoir, que continua a alimentar um diálogo frutífero entre a etnologia e a filosofia. Os editores agradecem a Angélique Nabet, secretária de redação de Les Temps Modernes, a Sandra Moreira, que intermediou os primeiros contatos com essa revista e a Sylvie Le Bon de Beauvoir, que gentilmente concedeu a autorização final para que pudéssemos disponibilizar aos leitores da Campos este texto inédito no Brasil (N.E.).
Há bastante tempo estava a sociologia francesa adormecida. É necessário saudar o livro de Lévi-Strauss como um evento que marca um brilhante despertar. Os esforços da escola durkheimiana para organizar de uma maneira inteligível os fatos sociais revelaram-se decepcionantes, pois se baseavam em hipóteses metafísicas contestáveis e em postulados históricos não menos duvidosos; como reação, a escola americana pretendeu abster-se de toda especulação: ela se limitou a acumular fatos, sem elucidá-los. Herdeiro da tradição francesa, porém formado de acordo com os métodos americanos, Lévi-Strauss desejou retomar a tentativa de seus mestres, evitando seus defeitos; ele também supôs que as instituições humanas são dotadas de significação; mas procurará a chave desta na humanidade própria daquelas; ele conjura os espectros da metafísica, mas não aceita, por outro lado, que este mundo seja apenas contingência, desordem, absurdo; seu segredo será tentar pensar o dado sem a intervenção de um pensamento que seja estrangeiro a