AS CRUZADAS
Para analisar o contexto psicológico das Cruzadas, devemos levar em consideração três elementos fundamentais da realidade da época: a contratualidade, a belicosidade e a religiosidade.
A realidade social do feudalismo estava fortemente baseada na ideia de contrato de reciprocidade de direitos e obrigações. A desigualdade social e a exploração de uma camada pelas outras eram mascaradas por uma ideologia segundo o qual haveria uma troca equilibrada de funções, enquanto alguns rezavam pelo bem de todos (clero), outros eram encarregados da proteção da sociedade (guerreiros) e por fim outro grupo cuidava da produção (camponeses). Na própria aristocracia guerreira encontrava-se aquela ideia no contato feudo-vassálico, que regulava a relação entre vassalo e senhor feudal, de modo que os direitos de um fossem obrigações de outro e vice-versa.
Assim, o que era de início uma justificativa para a desigualdade social e uma norma jurídica política, acabou com o tempo por se enraizar na mentalidade. Desta forma, a contratualidade ultrapassou no nível das relações inter-humanas para atingir as próprias relações com Deus. As relações homem Deus passaram a ser concebidas como relações vassalo-senhor feudal. O homem recebera a Terra como feudo do Senhor e em troca precisava, como qualquer vassalo, ser-lhe fiel e prestar serviço militar.
A belicosidade se originou na prática social para depois ganhar lugar no inconsciente coletivo. O próprio feudalismo tinha sido a origem em parte de uma forma de resistir aos invasores através da fragmentação do Ocidente. Por outro lado, procurando limitar as lutas internas, a Igreja promoveu a Paz e a Trégua de Deus proibindo guerras em certos períodos, mas assim implicitamente aprovando-as no resto do tempo.
Desta forma, o lado material transferiu-se para o emocional: desde o século XI o Diabo era visto como um vassalo de Deus caído em felonia, isto é, traição por