As cidades e as Serras-Análise Completa
Narrador
Esse foco narrativo (ou seja, essa maneira de contar a história) tem um nome técnico, "eu-como-testemunha", e é muito apropriado para obras que desejam ser críticas, pois o personagem-narrador acompanhará o protagonista em suas aventuras; e, como contará a história tempos depois, pode ser bem crítico e analisar melhor o que aconteceu. No caso, o apego de Fernandes ao protagonista tem ainda outra razão: este narrador quer entender o que faz um homem rico (nascido em Paris!) trocar tudo pelo campo, no interior de Portugal.
Personagens
Zé Fernandes reserva às personagens secun- dárias um espaço muito modesto na narrativa; são coadjuvantes que intervêm episodicamente, quando penetram no raio de ação do protagonista Jacinto, ou do próprio Zé Fernandes. Por esse motivo, suas caracterizações são muito esquemáticas; o narrador não as acompanha ou analisa, a não ser quando suas ações interessam para configurar as reações de Jacinto, de modo a modular sua personalidade, ou definir sua trajetória. Essas personagens secundárias não são propria- mente indivíduos; são generalizações, que ilustram tipos humanos, isto é, modelos gerais de comporta- mento ou personalidade. Eça de Queirós, através do narrador, caracteriza-as com pinceladas grossas, usando o método da caricatura, de que é mestre. Freqüentemente, apresentam traços ridículos, que denunciam a intenção satírica e crítica do autor. A única personagem fora o protagonista, é a do próprio narrador Zé Fernandes, que não é um simples coadjuvante, como as demais, mas um deuteragonista, isto é, a segunda persona- gem em importância, que forma um par com o pro- tagonista. Na verdade, Zé Fernandes é uma espécie de duplo de Jacinto, um seu complemento; juntos, cons- tituem uma totalidade, em que o caráter impulsivo do segundo é contrabalançado pelo perfil mais compas- sivo do primeiro. É como se fossem uma