Ary Barroso
Forjado no ufanismo do Estado Novo, esse eufórico samba exaltação desembarcou no bel canto de Francisco Alves em 1939, sob a opulenta orquestração de Radamés Gnattali, sincronizada com a ginga da percussão. Ocupava as duas faces de um single em 78 rotações, algo reservado apenas a óperas e composições eruditas, e tornou-se a música brasileira mais popular no exterior até o aparecimento da bossa-novista Garota de Ipanema, cujos autores, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, sempre louvaram os méritos do antecessor.
Jobim fez uma regravação épica da Aquarela, de voz e piano elétrico, no álbum Stone Flower (1970). Vinicius tornou-se parceiro de Barroso (a quem saúda no Samba da Bênção) em quatro composições, entre elas Rancho das Namoradas (sucesso posterior com Nara Leão) e Mulata no Sapateado, relida por Mart’nália em 2002. Gladiador ortodoxo do samba, Barroso passou pelo crivo vanguardista da bossa. No primeiro disco, João Gilberto redimensionava os requebros de É Luxo Só e Morena Boca de Ouro. No tropicalismo, Rogério Duprat reciclou Rio de Janeiro e Gal Costa prestou-lhe o álbum tributo Aquarela do Brasil (1980). O pictórico No Tabuleiro da Baiana reuniu o referido João e seus conterrâneos Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia