Artigo sobre o Velho da praia do Restelo (Lusàdas de Camões)

O Velho da praia do Restelo
Por: Ana Maria da Fonseca

O mais conhecido poema da língua portuguesa é uma epopéia que tem por assunto a viagem de Vasco da Gama ao Oriente. Mas o navegante português é apenas o herói aparente da epopéia, pois como o próprio título indica, seu verdadeiro herói é o povo português, cuja coragem tornou possível o grande feito.
As personagens estão dividas em dois níveis: histórico e o mitológico. No primeiro, encontra-se Vasco da Gama, sua tripulação e as outras pessoas de seu tempo, no segundo, figuras mitológicas: os deuses e semideuses do Olimpo, as ninfas.
Os portugueses dependem de inúmeros fatores, inclusive dos fenômenos da natureza, para atingir seu objetivo; o poeta, entretanto, atribui aos deuses da mitologia a capacidade de interferir nos acontecimentos.
No canto IV, narra aos navegantes o momento de partida das naus de Vasco da Gama. Surge então, na praia do Restelo uma personagem representando a voz do senso comum dentro do poema defendendo um ponto de vista contrário à expansão ultramarina, pregando o desprezo por valores como a glória e a fama. Sua fala é a voz humanista do pensamento renascentista que começa a questionar os paradigmas estéticos e morais medievais, temendo as mudanças decorrentes as grandes navegações, indicando ao mesmo tempo, os prejuízos que tais aventuras poderiam causar a Portugal.
O Velho Restelo figura do povo português faz uma reflexão filosófica sobre a empresa das Índias, que desde o tempo em que Camões escreveu os Lusíadas, havia já uma grande contestação ao modo como D. João III, tinha dado prioridade à Índia em comparação com o abandono de algumas das possessões africanas, pois eles já a conheciam desde a conquista de Ceuta em 1415 quando saquearam, assassinaram e estupraram, em nome da glória e da fé portuguesa. As posições do Velho Restelo seriam as posições do próprio Camões, pois este insta D. Sebastião, no início e no fim dos Lusíadas, a fazer guerra na África contra os mouros