Artigo rita sujeito capaz
A confirmação do sujeito capaz em Ricoeur: identidade pessoal e imputação moral
Rita de Cássia Oliveira1
Resumo: Paul Ricoeur acredita que a relação de distância pretendida absoluta entre o eu e o Outro deve ser sobreposta por uma relação de reciprocidade pela qual o Mesmo se abre ao Outro e a sua voz se interioriza no Mesmo. O modelo de reciprocidade está na linguagem pela troca dos pronomes pessoais “eu” pelo “Si” e, principalmente, no ato de fala da promessa. Ricoeur pensa a acepção de responsabilidade como imputabilidade, ou seja, o Si torna-se responsável pelos seus atos a partir da consciência de ser um sujeito capaz, pela consciência de ser narrador de sua própria história.
Palavras-chave: imputabilidade – promessa – sujeito capaz – linguagem – narrativa.
Ricoeur, ao direcionar a sua reflexão sobre a linguagem para a forma narrativa, liga-a ao problema do tempo, o que submete a articulação do discurso humano ao desdobramento do antes e do depois. Existe uma reciprocidade entre o tempo e a narração, na medida em que tudo aquilo que é narrado ocorre no tempo e desenvolve-se no tempo, o que comprova, segundo o filósofo, que tudo que se desenvolve no tempo pode ser narrado. A tese de Ricoeur atesta que a narrativa permite um modo de acesso privilegiado ao tempo humano. Portanto, a narrativa contém um enigma da existência humana.
No final dos três volumes de Temps et récit, Ricoeur sublinha o caráter enigmático do tempo nas três aporias que formam conflitos insolúveis, com os quais se confrontam todas as tentativas de conceitualização ou de se dar expressão linguística ao tempo, são: a perspectiva dupla sobre o tempo, o fenomeno1 Professora de Filosofia e Literatura do Departamento de Filosofia da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA). Email: rcoliveira30@yahoo.com.br.
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Oliveira, R. C., Cadernos de Ética e Filosofia Política 19, 2/2011, pp.29-42.
lógico e o cosmológico e a sua ocultação mútua, a totalidade e a totalização do tempo e a