Artigo Introdu O
Por outro lado, o nome de Adam Smith não está associado apenas à imagem do fundador da ciência econômica, mas também a um modo específico de conceber essa disciplina, isto é, como uma teoria voltada para explicar a maneira pela qual a busca ir refreada dos interesses pessoais conduziria através dos mecanismos de mercado, aos melhores resultados possíveis em termos de bem-estar para os indivíduos que compõem uma dada sociedade. Desse modo, a Riqueza das nações é geralmente considerada a afirmação clássica das virtudes do laissez-faire (Griswold Jr., 1999: 8-9; Brown, 1997). Estudos mais recentes sobre a obra de Smith têm contribuído para perceber o que há de caricatural nessa imagem. Deixando em segundo plano as análises econômicas para enfocarem a dimensão política e ética de seu pensamento, ao mesmo tempo em que se preocupavam em localizá-lo em relação aos problemas e motivações intelectuais do século XVIII, tais pesquisas trouxeram à luz um quadro totalmente diverso, mais matizado e complexo, Este trabalho procura apresentar e discutir os aspectos mais expressivos deste movimento de releitura da obra de Smith. O argumento do texto se desenvolve em quatro movimentos. A próxima seção recupera, em linhas gerais, a trajetória da recepção da obra de Smith ao longo dos mais de dois séculos que nos separam de seu surgimento. As seções seguintes voltam-se para a caracterização das principais abordagens metodológicas que presidiram estes esforços de leitura e, mais à frente, para uma análise das interpretações contemporâneas