artigo hanna arendt
ESQUECIMENTO E REDESCOBERTA DA POLÍTICA1
André DUARTE2
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RESUMO: Para Hannah Arendt, a modernidade configura um período histórico de obscurecimento das determinações políticas democráticas, pois, onde a política não foi reduzida ao plano da violência, como no caso dos fenômenos totalitários, ela foi reduzida ao plano da administração burocrática dos interesses econômicos da sociedade. Neste artigo, pretendo discutir a constituição argumentativa desse diagnóstico, referindo-o à sua raiz de inspiração, isto é, as críticas de Nietzsche e Heidegger à modernidade. Finalmente, procuro demonstrar que Arendt não se limitou a uma concepção negativa das possibilidades políticas modernas, pois vislumbrou nos modernos eventos revolucionários a possibilidade de uma revitalização da política em suas determinações democráticas originárias, dado que aí se restabeleceram os laços entre a ação política, a liberdade e a felicidade pública.
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PALAVRAS-CHAVE: Arendt; modernidade; política; Nietzsche; Heidegger.
Decorridos 25 anos da morte de Hannah Arendt, seu pensamento político e filosófico conserva toda a originalidade, pertinência e seu caráter profundamente desconcertante, desafiando os rótulos e classificações forjados no calor dos debates ideológicos ou no furor dos modismos teó-
1 O presente artigo foi apresentado, em formato reduzido, no Colóquio de Filosofia Política organizado pelo Departamento de Filosofia da UFPR, ocorrido entre 15 e 19 de abril de 2000, e no Colóquio Hannah
Arendt organizado pela Pós-Graduação em Filosofia da Unicamp, entre 5 e 6 de junho de 2000. Para uma discussão mais ampla das teses defendidas no presente texto, refiro o meu livro: O pensamento à sombra da ruptura: política e filosofia no pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
2 Departamento de Filosofia – UFPR – 80060-000 – Curitiba – PR.
Trans/Form/Ação, São Paulo, 24: 249-272, 2001
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ricos do momento. Não casualmente, seu pensamento