Artesanato Intelectual
C. Wright Mills
Para o cientista social individual, que se sente parte da tradição clássica, a ciência social é como um ofício. Como homem que se ocupa de problemas de substância, está entre os que facilmente se impacientam pelas cansativas e complicadas discussões de método-e-teoria-em-geral, que lhe interrompe; em grande parte, os estudos adequados. É muito melhor, acredita ele, ter uma exposição, feita por um estudioso, de como está realizando seu trabalho do que uma dúzia de "codificações de procedimento" por conseqüência. Somente pela conversação na qual os pensadores experimentados trocam informações sobre suas formas práticas de trabalho, será possível transmitir ao estudante iniciante um senso útil de método e teoria. Creio, portanto, que devo expor, com algum detalhe, como realizo meu ofício. É uma declaração pessoal necessária, mas escrita com a esperança de que outros, especialmente os que iniciam um trabalho independente, a tornarão menos pessoal, pelo fato de sua própria experiência. 1.
É melhor começar, creio, lembrando aos principiantes que os pensadores mais admiráveis dentro da comunidade intelectual que escolheram não separam seu trabalho de suas vidas. Encaram a ambos demasiado a sério para permitir tal dissociação, e desejam usar cada uma dessas coisas para o enriquecimento da outra. É claro que tal divisão é a convenção predominante entre os homens em geral, oriunda, suponho, do vazio do trabalho que os homens em geral hoje executam. Mas o estudante terá reconhecido que, como intelectual, tem a oportunidade excepcional de estabelecer um modo de vida que estimule os hábitos do bom trabalho. A erudição é uma escolha de como viver e ao mesmo tempo uma escolha de carreira; quer o saiba ou não, o trabalhador intelectual forma seu próprio eu à medida que se aproxima da perfeição de seu ofício; para realizar sua potencialidade, e as oportunidades que lhe surgem, ele constrói um
1
caráter