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Uma controvérsia cerca até hoje a fotografia mais famosa de Robert Capa, ‘O Soldado Caído’, feita durante a Guerra Civil espanhola e publicada na revista francesa “Vu” em 1936 (e republicada na “Life” no ano seguinte, quando ganhou repercussão internacional): desde os anos 70 vários pesquisadores afirmam que se trata de uma imagem encenada, ou mesmo que se trata do registro de um escorregão, e não do momento da morte de um soldado. Ainda assim a imagem permanece como um poderoso símbolo do absurdo da guerra, de qualquer guerra. O caso mostra como Robert Capa e o próprio fotojornalismo são temas difíceis e cheios de ambiguidades, mas Alex Kershaw enfrenta com competência o desafio de abordá-los na biografia “Sangue e Champanhe – A Vida de Robert Capa (Record, 340 pgs. R$ 42,90).
Sintomaticamente, o próprio Robert Capa batizou seu livro de memórias de “Slightly Out of Focus“ – “Ligeiramente fora de foco” – como que reconhecendo algumas liberdades e distorções no texto. Kershaw alcança um equilíbrio delicado entre a reconstituição anedótica de uma vida aventurosa e a composição de um personagem multifacetado e cheio de defeitos, capaz de despertar ódio e desprezo, mas ainda assim digno de admiração. Como se não bastasse uma trajetória profissional marcada pela cobertura de cinco guerras e pelas amizades e/ou relacionamentos amorosos com celebridades, deixando retratos memoráveis de várias delas, Capa foi o primeiro jornalista a morrer na Guerra do Vietnã, abatido por um morteiro enquanto buscava mais uma imagem.
Nascido em Budapeste em 22 de Outubro de 1913 — Thai-Binh, 25 de Maio de 1954foi um fotógrafo húngaro., André Friedmann, aka Robert Capa, fugiu do país natal para Berlim, ainda adolescente, a tempo de testemunhar a ascensão de Hitler. Ainda muito jovem, de posse de uma Leica, chamou a atenção dos colegas pela primeira vez com uma fotografia de Leon Trotsky discursando para uma multidão sobre o significado da Revolução Russa, em sua última