arte

IONE SALDANHA

O TEMPO E A COR

A exposição retrospectiva de Ione Saldanha (1921-2001) acontece em um momento importante de releitura da história da arte brasileira, tendo em vista a necessidade de ampliação dos seus momentos referenciais. Sendo uma artista que viveu de dentro a passagem do modernismo dos anos 1940 para a experimentação concreta e neoconcreta da década seguinte, ela soube rever as possibilidades da pintura sem perda da sua coerência poética.
O início da sua trajetória caracteriza-se por uma pintura figurativa, marcada por cores escuras, sombrias e interiorizadas. Voltada para cenas mais intimistas, via a pintura como crônica de uma experiência de mundo solitária e isolada. Há nas fachadas reincidentes em suas telas uma opção pelo Brasil colonial, pelas ruas antigas de Ouro
Preto ou da Bahia, ainda não contaminadas pela agitação e pelo movimento das cidades modernas. O seu olhar está voltado para dentro e para o passado, não obstante sua composição já afirmar os valores de superfície sobre a ilusão naturalista do espaço tridimensional.
Em meados da década de 1950, as fachadas vão se transformando em notações geométricas, que se são mais simples do ponto de vista da construção figurativa, são bem mais complexas no que diz respeito ao jogo rítmico de formas e cores. A pintura fica mais ventilada e o olho corre mais solto pela superfície da tela.
Entre o final da década de 1950 e meados da década seguinte, ela vai conquistando sua maioridade poética, seu estilo singular no qual descontração e vibração se complementam e se potencializam. Depois de um flerte com o informalismo, ela vai se aproximando da experimentação com os mais variados suportes e, aos poucos, vai soltando

a cor no espaço. Para isso faz uso de materiais precários, pedaços de ripa, bambus e bobinas, dando-lhes uma extraordinária pulsação lírica. A beleza é na sua obra uma afirmação singela do existir, um dizer sim à vida. É a própria artista quem diz ao tratar