Arte
O fato de que hoje a maior parte dos discursos que ainda falem em revolução e transformação da sociedade sejam tratados como anacrônicos e que as discussões com o marxismo sejam consideradas pouco atuais é sintomático. Diversos autores lerão este fenômeno como um sinal de que estamos num tempo de cinismo, outros de que o fracasso das experiências revolucionárias do século XX nos obriga a criticar o marxismo em suas bases. Apesar de todo esse panorama, a discussão a respeito do papel da arte para a emancipação da sociedade se mantém atual, na medida em que orienta boa parte das críticas e reflexões sobre a arte na contemporaneidade e a indústria cultural.
É nesse debate que precisa ser situada a obra A Dimensão Estética, de Herbert Marcuse, que pode ser vista como uma crítica à concepção marxista ortodoxa da arte, presente, por exemplo, nas interpretações lukacsianas. Apesar de dar um valor exacerbado à arte enquanto revolucionadora da experiência, Marcuse não recai em idealismo, já que admite que, a despeito da sua função primordial no despertar de uma percepção nova e revolucionária, a emancipação de fato não pode se dar pela arte, mas apenas na transformação da realidade existente. A arte é o último reduto de um pensamento livre no mundo administrado, mas a liberdade de fato só é possível por meio de mudanças reais.(2)
Segundo Marcuse, a estética marxista ao eleger o realismo como única forma verdadeira ou evoluída de arte, considera a base material como a verdadeira realidade e desvaloriza a subjetividade, um pré-requisito para a emancipação. Lukács analisa a arte através da totalidade, da teoria, relegando a um segundo plano a objetividade própria da estética: “a existência e a essência, a gênese e eficácia da literatura só podem ser compreendidas e explicadas no quadro histórico geral de todo o sistema. A gênese e o desenvolvimento da literatura são parte do