Arte e entreterimento (cultura e mercado)
Ketelen Silva| quarta-feira, 20 de junho de 2012
Destaca - se a publicação de nossos primeiros romances pelos folhetins nos grandes jornais da época e a formação de um público leitor ansioso por uma narrativa envolvente, composta de personagens reconhecíveis e um cenário cotidiano. Desenvolveu-se assim no final do século XIX, no Brasil, a literatura como entretenimento e profissão, afinal muitos escritores viviam de seu próprio trabalho que era acompanhado com interesse por inúmeros leitores assíduos dos jornais, sobretudo as mulheres. A narrativa fluente que facilmente se ajustava ao gosto do leitor comum era a forma naturalmente imposta por aquele tipo de publicação, o que levou muitos autores a se aperfeiçoarem em um estilo repleto de peripécias e de enredos adequados ao espaço diário ocupado nos jornais por este tipo de publicação.
O Modernismo, por sua vez, rompeu com essa estrutura de obra digerível por todos, ao lançar-se em experimentos temáticos e de recriação da linguagem abrindo caminhos para diversas linhas evolutivas trilhadas pela literatura brasileira no decorrer do século XX. Para Flávio, a literatura produzida hoje teria, portanto, um vínculo evidente com aquela produzida no final do século XIX, na medida em que hoje o entretenimento tornou-se um dos aspectos da vida atual determinantes da sensibilidade do leitor, o que não implica necessariamente em qualidade inferior ou literatura “menor”.
A distinção muitas vezes discutível e até mesmo preconceituosa para muitos, entre literatura de entretenimento, portanto de baixa qualidade, e literatura canônica, portanto de alta qualidade, pode levar a uma compreensão falsa do fenômeno do prazer da leitura no mundo atual. A lógica do entretenimento perpassa praticamente todas as relações sociais em uma sociedade midiática fundamentada na comunicação. Até mesmo os jornais televisivos transformaram-se, adequando-se à necessidade de “entreter” a platéia e não mais apenas passar