Arquitetura da destruição e gabriel marcel
O autor inicia o texto com uma crítica ao que chama de uma história como “maneira de esquecer”, como “simples menção abstrata” ou como “neutralização do passado”. Marcel defende a utilização da memória como forma de reconstituição de um acontecimento por dentro e sem sair dele. Partindo deste pressuposto, o autor apresenta trechos de narrativas que descrevem os horrores do nazismo. Os depoimentos referem-se, sobretudo, à tentativa de destituição da integridade moral, de supressão da dignidade humana e até de animalização do indivíduo, principalmente no contexto dos campos de concentração. A partir destes relatos, apresenta-se o conceito de “técnicas de aviltamento”:
[...] entendo por técnicas de aviltamento processos intencionais para atacar e destruir em indivíduos de categoria determinada o respeito de si mesmos, transformando-os pouco a pouco em resíduo que se considera tal e só pode desesperar não só intelectualmente, mas até vitalmente de si próprio. (MARCEL, 1995, P. 39)
Deste modo, a realidade retratada no documentário dialoga significativamente com este conceito e com sua aplicação prática no que tange à produção técnica e suas consequências para a humanidade. O documentário apresenta a missão inicial a que se propõem os nazistas, “purificar” a espécie humana, extirpando grupos como judeus e pessoas com deficiências, comparando-os à ratos, vírus e bactérias que atrasam o surgimento de um novo “corpo do povo alemão”. Esta perspectiva assemelha-se à fala apresentada no capítulo: “Inculcava-se propositalmente o bacilo da depravação em seres-humanos, para desmoralizá-los, matá-los moral e fisicamente como piolhos e micróbios [...]” (MACEL, 1995, p. 41). Tornar resíduos estes indivíduos era a missão do nazismo, em