Arquiteto
INTIMISMO
Sophia S. Telles
A obra construída de Lúcio Costa é relativamente pequena, mas sua obra escrita — composta de vários artigos publicados em revistas, a maioria deles recolhidos em 1962 e 19701 — ajuda a compreender melhor o sentido de sua reflexão sobre a arquitetura. Sobre Lúcio Costa pouco ou nada foi escrito. Reconhecidamente a referência mais importante para uma parte da moderna arquitetura brasileira, ele se manteve numa posição discreta e algo isolada, especialmente após 1938, ano do Concurso para o
Pavilhão do Brasil em Nova York, feito posteriormente em conjunto com
Oscar Niemeyer2. É provável que uma avaliação de seu trabalho somente seja possível depois que a arquitetura brasileira tenha constituído uma obra suficiente para que nela se entreveja o partido que Lúcio delineou há muitos anos, e que é menos um repertório de formas ou uma determinação construtiva do que uma certa atitude3 diante da modernidade, que nele sempre esteve demarcada por um olhar retrospectivo sobre nosso passado colonial.
A inevitável abordagem literária do pensamento de Lúcio Costa deve-se à descrição sempre poética dos seus memoriais e de seus depoimentos sobre a arte, a arquitetura e o Brasil. Uma primeira indicação da maneira particular pela qual Lúcio considera a civilização industrial aparece de forma reservada em alguns poucos textos, onde deixa entrever uma leve desaprovação ao modernismo importado, referindo-se provavelmente aos modernistas paulistas. Em 1948, respondendo a Geraldo Ferraz sobre a primazia do projeto moderno no Brasil, Lúcio afirma que a obra de Niemeyer não proviria de fonte secundária (Warchavchick), mas de um vínculo direto com Corbusier, além de manter a afinidade com a tradição colonial. Nesse depoimento, confirma a sua própria contribuição para "neutralizar o complexo modernista". Em 1951, Lúcio observa que as atitudes a priori do modernismo oficial jamais seduziram o grupo de arquitetos