Infelizmente, documentários são filmes pouco difundidos comercialmente e com público bastante restrito. Muitos os consideram chatos, como uma reportagem cansativa e interminável. Em alguns casos é verdade, mas na grande maioria deles, os documentaristas nos apresentam uma verdadeira obra-prima inspirada pela realidade, matéria-prima desse cinema de público seleto. "Nós que aqui estamos por vós esperamos" (1999), do diretor Marcelo Masagão, entra nessa lista de documentários marcantes que fogem da regra de simplesmente retratar a realidade, ele sabe que essa função é do jornalismo, ao cinema documental cabe interpretar e poetizar essa realidade. E é isso que ele faz, poesia. "Nós que aqui estamos por vós esperamos" é um paralelo cinematográfico do livro "Era dos Extremos", do historiador Eric Hobsbawn, que narra a história do século XX, o período de maior transformação da Humanidade. Utilizando imagens de arquivo que foram produzidas durante todo o século, em diferentes partes do mundo, o documentário cria histórias, personagens e situações que, mesmo não sendo reais, poderiam ter sido. O que importa é que o universo micro que ele cria, serve de metáfora para falar do macro, narrando o contexto social, cultural e humano do século que mudou o mundo em velocidade máxima. A maneira como Masagão conecta essas imagens de arquivo (que não possuem nenhum vínculo entre elas) com as histórias que cria, transforma o documentário em uma poesia visual requintada, que expressa sentimento, anseios e verdades que também são nossas, afinal somos todos filhos e filhas do século XX. Documentários como "Nós que aqui estamos por vós esperamos", precisam ser vistos não por narrar fatos que dizem respeito a todos nós, mas por trazer à tona os sentimentos, anseios e medos que nos movem. Eles precisam ser vistos porque ao falarem dos outros, dizem muito sobre nós. Fazendo poesia com o passado, Masagão nos impele a sonhar o