ARQ3217 - Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo VII

O homo fluxus
Elane Ribeiro Peixoto

Elane Ribeiro Peixoto é arquiteta, doutora em Teoria e História da Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, professora na UCG Departamento de Artes e Arquitetura - Escola Edgar A. Graeff do Ramo de Teoria, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Edifício e da Cidade

O homo fluxus é mais um elo na longa cadeia evolutiva da humanidade. É um sobrevivente, um mutante. Desterritorializado, esse novo homem do século XXI, vive em constante movimento, seu companheiro inseparável é um microcomputador facilmente transportável que lhe permite a satisfação de seu maior vício: a informação. Conectado em redes múltiplas, a cada dia ele navega por infovias, estendo o seu corpo para distâncias inimagináveis, por tempo ininterrupto. A satisfação desse vício, também a garantia de sua própria sobrevivência, transformou esse homem num misto de humano e máquina. Bombardeado por informação, esse ser desenvolveu habilidades surpreendentes: é capaz de efetuar leituras nas telas catódicas que se movimentam em alta rapidez, expressa-se em números variados de idiomas e está imune às crises de rinite, porque o seu ambiente natural é sempre climatizado e mantido em temperatura constante de 22 graus centígrados, não importa se no frio das regiões nórdicas ou no calor das regiões áridas. Esse homem encontra prazeres supremos, nos espaços alucinados dos grandes aeroportos, inundados por lojas de todas as marcas, mundialmente reconhecidas. Esse prazer revela um segundo vício: o consumo das grifes.

O homo fluxus, obcecado pela boa forma, ingere quilos de complementos alimentares, dúzias de cápsulas que retardam os processos de oxidação, todos os produtos da linha diet, não dispensa as horas diárias de academia e, quando não afeito aos exercícios físicos, recorre às clinicas de cirurgia plástica. Abomina a morte e a dor, por isso não dispensa a sua dose cotidiana de anti depressivo. Ele não tem