Aristóteles e Hobbes
Luiz Felipe F. C. de Farias
R.A. : 024458
Introdução
O objetivo deste trabalho é apresentar alguns traços centrais do debate entre Aristóteles e Hobbes a respeito da ética. Para tanto pretendemos apresentar seus diferentes conceitos de bem, felicidade, desejo, deliberação e razão, bem como comentar incidentalmente algumas de suas discordâncias a respeito da física, na medida em que se mostrarem relevantes ao debate em questão. Nossa argumentação como um todo insere-se em um esforço de compreender alguns momentos chave da reflexão crítica da modernidade acerca da tradição filosófica legada pelos antigos. Neste texto em específico tematizaremos o deslocamento da ética e a tendente hipertrofia da política (tal como modernamente pensada) na ordenação do ser social, em consonância com o processo histórico concreto de constituição de um aparelho estatal centralizado, portador dos monopólios de uso legítimo da violência e de estabelecimento único de bases jurídicas.
Ética e política
No início de sua Ética Nicomachea Aristóteles nos diz que toda arte, toda investigação, toda ação ou escolha tem em mira um bem qualquer. Em curtos termos diz-nos ele que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem. Seus primeiros desenvolvimentos de um ponto de vista propriamente ético a este respeito adiantam apontamentos particularmente significativos ao contraponto que queremos desenvolver neste texto. Aristóteles identifica primeiramente diferentes fins de uma ação: podem ser eles ou a própria atividade, desejável em si mesma, ou um produto distinto da atividade. Neste segundo caso havemos de considerar a atividade algo subordinado e o produto algo mais excelente que a ação mesma. Em complemento a isto, diz-nos Aristóteles que devemos considerar as artes e os bens a que elas tendem em sua articulação e subordinação entre si. Deste modo