ARGUMENTO ONTOLÓGICO
O argumento ontológico
Talvez seja melhor pensar no argumento ontológico não como um único argumento mas como uma família de argumentos, em que cada membro começa com um concei‐ to de Deus e, apelando apenas a princípios a priori, procura estabelecer que Deus exis‐ te efectivamente. Nesta família de argumentos, o mais importante historicamente é o apresentado por Anselmo no segundo capítulo do seu Proslogium (um discurso).1 Na verdade, é justo afirmar que o argumento ontológico começa com o Capítulo 2 do
Proslogium de S. Anselmo. Numa obra anterior, Monologium (um solilóquio), Ansel‐ mo procurara estabelecer a existência e natureza de Deus entretecendo diversas ver‐ sões do argumento cosmológico. No prefácio ao Proslogium Anselmo comenta que após a publicação do Monologium começou a procurar um único argumento que por si só estabelecesse a existência e natureza de Deus. Depois de muito esforço árduo e infrutífero, Anselmo diz‐nos que procurou afastar o projecto da sua mente, para se dedicar a tarefas mais compensadoras. A ideia, contudo, continuou a assombrá‐lo até que um dia se lhe tornou clara a prova que procurara tão arduamente. É esta prova que Anselmo apresenta no segundo capítulo do Proslogium.
Conceitos fundamentais
Antes de apresentar passo a passo o argumento de Anselmo, será útil introduzir alguns conceitos que nos ajudarão a compreender algumas das ideias centrais que figuram no argumento. Suponha‐se que desenhamos, na nossa imaginação, uma linha vertical e imaginamos que no lado esquerdo da nossa linha estão todas as coisas que existem e no lado direito da linha estão todas as coisas que não existem. Podíamos então começar a fazer uma lista de algumas coisas que estão em ambos os lados da nossa linha imaginária. A lista poderia começar da seguinte maneira: