Aquela coisinha
"Ao lado do meu prédio construíram um enorme edifício de apartamentos. Onde antes eram cinco românticas casinhas geminadas, hoje instalaram-se mais de 20 andares. Da minha sala vejo a varandas (estilo mediterrâneo) do novo monstro. Devem distar uns 30 metros, não mais.
E foi numa dessas varandas que o facto se deu."
(Mário Prata. 100 Crónicas. São Paulo, Cartaz Editorial, 1997)
A descrição tem sido normalmente considerada como uma expansão da narrativa. Sob esse ponto de vista, uma descrição resulta frequentemente da combinação de um ou vários personagens com um cenário, um meio, uma paisagem, uma colecção de objectos. Esse cenário desencadeia o aparecimento de uma série de subtemas, de unidades constitutivas que estão em relação metonímica de inclusão: a descrição de um jardim (tema principal introdutor) pode desencadear a enumeração das diversas flores, canteiros, árvores, utensílios, etc., que constituem esse jardim. Cada subtema pode igualmente dar lugar a um maior detalhe (os diferentes tipos de flor, as suas cores, a sua beleza, o seu perfume...).
Em trabalho recente, Hamon (1981) mostra que o descritivo tem características próprias e não apenas a função de auxiliar a narrativa, chegando a apontar aspectos linguísticos da descrição: frequência de imagens, de analogias, adjectivos, formas adjectivas do verbo, termos técnicos... Além disso, o autor ressalta a função utilitária desempenhada pela descrição face a qualquer tipo de texto do