Aproximação da moral kantiana com a moral cristã
Henrique Pedrotti[1]
Quem sabe nossa pretensão em aproximar a moral kantiana da moral cristã seja arriscada a ponto de debilitar ambas em seu sentido mais pleno. Mas, deixando de lado todo o aprofundamento dogmático cristão e o mais profundo sentido criticista kantiano, podemos relacionar algumas ideias propostas por Kant em sua moral com a vivência milenar das práticas cristãs. Com Aristóteles o mundo antigo formulou uma concepção teleológica da ética, ou seja, toda a ação do homem deveria vislumbrar um fim, ou seja, não se importava os meios que se utilizava, o importante era a finalidade. Assim, se uma pessoa estivesse com uma grave doença de coração e procurasse o médico e este diagnosticasse a tal doença e tivesse consciência de que se ele falasse a verdade ao paciente este poderia vir a falecer, então o médico deveria mentir ao paciente e procurar um modo de o ajudar sem revelar o verdadeiro problema, buscando assim a finalidade de preservar a vida do paciente. É com Immanuel Kant (1724-1804) que acontece uma reversão no que se refere à ética. A teleologia cedeu espaço para a deontologia. Para Kant, o nosso agir é pelo dever. Não devemos nos perguntar qual será o resultado de nossa ação, mas agir simplesmente por dever, sem interesse. No caso acima citado do médico – paciente, a ética deontológica orientaria agir com dever, ou seja, mesmo que causasse um mal ao paciente ele saber sobre sua doença, ele tem o direito de saber a verdade, e, por isso, o médico tem o dever de contá-lo sobre esta. Mesmo tendo muitas reservas ao Cristianismo, Kant elaborou sua teoria sobre a ética deontológica muito semelhante aos preceitos evangélicos de conduta humana. O próprio Cristo já afirmava há dois milênios atrás o valor de uma prática que não vise um interesse, uma recompensa. Ele era enfático em questionar os fariseus, que muito sabiam e pregavam sobre as Sagradas