APRESENTAÇÃO EMIR SADER IDEOLOGIA ALEMÃ
Para o pensamento aristotélico, a verdade se identifica com a ausência de contradição. Se A é igual a A, não pode ser igual a B ou a qualquer não A. Simplesmente isso. Sua lógica codifica essas normas elementares, sem as quais qualquer discurso se torna impossível. Se uma coisa é igual a si mesma e diferente de si mesma, se ela é igual a si mesma e igual a outra coisa, trata-se de uma contradição, indicação insofismável de uma falsidade.
Essa lógica - chamada de formal ou da identidade - norteou a grande maioria das correntes do conhecimento ao longo dos séculos, da Antiguidade, passando pela Idade Média, chegando ao mundo moderno e avançando até o contemporâneo. Podemos dizer que ela continua a moldar o senso comum, consistindo na leitura mais difundida da realidade empírica, tal como ela costuma ser vivenciada por grande parte da humanidade. Nela, a contradição é sintoma de falsidade.
A revolução copernicana no pensamento humano veio com a reversão dessa identificação na obra de Georg Wilhelm Friedrich Hegel - para quem, em vez de falsidade, a contradição aponta para a apreensão das dinâmicas essenciais de cada fenômeno. Captar a contradição passa a ser sintoma da apreensão do movimento real dos fenômenos.
A inversão hegeliana coloca em questão outro pressuposto do pensamento clássico: a dicotomia sujeito/objeto. Antes, tal dicotomia era condição da reflexão epistemológica, assim como forma de compreensão da inserção do homem no mundo. Do cogito cartesiano ao eu transcendental kantiano, a diferenciação sujeito/objeto habitou, com diferentes roupagens, todos os sistemas filosóficos pré-hegelianos.
O pensamento de Hegel atinge