apresentação da revista da USP de 80 anos do rádio
Mario Fanucchi Algum tempo atrás, descobri um exemplar da pequena enciclopédia ilustrada Mémento Larousse anterior à Primeira Guerra Mundial. Ao folheá-lo constatei que, ainda no limiar do século XX, um livro de conhecimentos gerais já trazia informações detalhas sobre a transmissão de mensagens através das ondas de rádio. O texto definia a inovação como “algo capaz de substituir com vantagem o telégrafo pelo fato de dispensar o uso do fio; o que tornaria mais eficiente e barata a comunicação entre os postos militares das colônias”. O tópico se encerrava com esta espantosa previsão: “Pelo fato de constituírem transmissão de energia, as ondas de rádio poderão, no futuro, exercer controle a distância para explodir minas ou lançar torpedos”. A descrição das maravilhas da transmissão pelo rádio, como se vê, não incluía um de seus fatores mais importantes: a comunicação de massa. Para se chegar até ela, havia um longo caminho a percorrer, a começar pela radiotelegrafia; a radiotelefonia; as transmissões experimentais, em circuito fechado; e, por fim, a transmissão em circuito aberto e frequência fixa. Diante dessa multiplicidade da radiocomunicação é que se perde, às vezes, a noção exata de quem chegou antes e o que veio antes. Primeiro, em relação aos inventores: houve inúmeros participantes no processo. Segundo, quanto à utilização do meio: quem foi, de fato, pioneiro? Terceiro, quando falamos de rádio, é lícito eleger esta ou aquela função do meio como de maior ou menor importância? Quarto, tendo em vista a introdução do rádio no Brasil, qual o evento a ser levado em conta? E, finalmente, ainda em relação ao nosso rádio, se a alternativa “meio de comunicação de massa” merece destaque, qual, nesse mister, é o balanço dos oitenta anos da radiofonia? O processo de transformação do rádio começou assim que a primeira estação entrou no ar, e continua até hoje. Apesar de algumas opiniões em contrário, o rádio mantém seu poder de influenciar a opinião