APOSTILA DE FILOSOFIA GERAL
A linguagem humana intervém como forma abstrata que nos distancia da experiência vivida e nos permite reorganizá-la em outro contexto, dando-lhe novo sentido. É pela palavra que nos situamos no tempo, para lembrar o que ocorreu no passado e antecipar o futuro pelo pensamento. Se a linguagem, por meio da representação simbólica e abstrata, permite que nos distanciemos do mundo também é ela que nos possibilita o retorno para agir sobre ele e transformá-lo.
O mundo que resulta do pensar e do agir humano não pode ser chamado de natural, pois se encontra modificado e ampliado por nós. Portanto, as diferenças entre o ser humano e o animal não são apenas de grau, porque, enquanto o animal permanece mergulhado na natureza, nós somos capazes de transformá-la em cultura.
Dada a infinita possibilidade humana de simbolizar, as culturas são múltiplas. Variam as formas de pensar, de agir, de valorar; são diferentes as expressões artísticas e os modos de interpretação do mundo, tais como o mito, o senso comum, a filosofia ou a ciência. Vale lembrar que a ação cultural é coletiva, por ser exercida com tarefa social, pela qual a palavra toma sentido pelo diálogo.
Tradição e ruptura
O mundo cultural e um sistema de significados já estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra-se diante de valores já dados. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de se sentar, andar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares; tudo enfim, se acha codificado. Até na emoção, que nos parece uma manifestação espontânea, ficamos à mercê de regras que educam a nossa expressão desde a infância.
Todas as diferenças existentes no comportamento modelado em sociedade resultam da maneira pela qual nela foram organizadas as relações entre os indivíduos. É por meio delas que se estabelecem os valores e as regras de conduta que norteiam a construção da vida social, econômica e política.
Como fica então a