Apologia de Socrates
Considerações sobre o conceito de experiência e a crítica de Popper ao Positivismo1
Marcelo Carvalho
Universidade Federal de São Paulo
E-mail: carvalho.marcelo@uol.com.br
Resumo
Pretende-se apresentar as dificuldades enfrentadas pelas reformulações do empirismo no séc. XX, na medida em que aceita a crítica kantiana ao psicologismo mas pretende, ainda, fundar o conhecimento na experiência. Isso será feito a partir de considerações sobre a crítica de Popper ao positivismo lógico, em seu debate sobre a base empírica, e na indicação de suas próprias dificuldades em sustentar o empirismo.
Palavras Chave: Experiência, Positivismo, base empírica, Popper, psicologismo.
1
Parte desse trabalho foi desenvolvida sob a orientação do Prof. Dr. Oswaldo Porchat Pereira, no Departamento de Filosofia da USP. Sua revisão, que resultou na atual versão, é parte de um projeto que contou com bolsa de pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS.
Revista Páginas de Filosofia
Empirismo e objetividade 75
1.
"Almost all epistemologists who wished to account for our empirical knowledge opted for psychologism. I propose to look at science in a way slightly different from that favoured by the various psychologistic schools".2 "Experience is creative"3
A ciência empírica pretende representar "o mundo real", "o mundo de nossa experiência" [LScD, 39]. Para isto, deve ser constituída, segundo Popper, por um conjunto de proposições não-contraditórias (sintéticas) e possíveis (isto é, falseáveis ou não-metafísicas, segundo o critério de demarcação adotado na Lógica). Estas exigências, que caracterizam a forma lógica das proposições da ciência [LScD, 68-70 e 102], resultam da pretensão desta ciência de representar um mundo empírico (possível e não-metafísico). Mas a ciência empírica pretende mais do que apenas representar um mundo empírico possível: nossas teorias devem representar "nosso mundo de experiência"