Análise econômica e economia política
Carlos Lessa - Economista; Aula Magna proferida no Departamento de Economia da Unicamp – Outubro, 1972.
Introdução
Vamos abordar o problema do ensino de economia. Não tem muito sentido relacionar os velhos problemas: falta de verbas, falta de professores, professores que não têm tempo integral, alunos que não têm dedicação exclusiva, etc. Vou tentar discutir com vocês o tema sob um segundo ângulo, o problema substantivo de qual o conteúdo possível, ou qual dos conteúdos podem ser propostos à formação do economista. E parece que nossa profissão está marcada por pelo menos dois séculos de um debate que até hoje não se resolveu: qual éo objeto próprio de reflexão em economia.
Na verdade, existem dois objetos de possível proposição e cada um desses objetos de conhecimento apresenta implicações com respeito ao ângulo de abordagem e modo de tratar os temas completamente distintas. À primeira vista, os dois objetos não são tão discrepantes assim. Um primeiro objeto com que todos os alunos do primeiro ano do curso de economia tomam contato é dizer que a meta básica de reflexão do economista é estudar todos os fenômenos relacionados com a escassez material; então, o fato econômico se caracterizaria pela presença de uma escassez relativa. Ar e água não são problemas econômicos porque não são escassos; como tudo mais é escasso, tudo o mais pertence ao terreno da economia.Eles dizem que a escassez está diretamente relacionada com outro conceito, que é o conceito de opção. Então, o estudo do economista é de como realizar opções segundo critérios. Eu chamei isto de objeto número um, ou objeto de análise econômica.
Agora, numa outra perspectiva se propõe como objeto próprio da reflexão do economista o estudo das leis sociais que regem os processos de produção e repartição dos bens e serviços. Dito de outra maneira, todas as sociedades organizadas, desde a neolítica inferior até a sociedade do século XX, de alguma maneira se