Análise do poema “Reinvenção” de Cecília Meireles
Reinvenção
A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas que vem de fundas piscinas de ilusionismo... — mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada. Vem a lua, vem, retira as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada, desprendo-me do balanço que além do tempo me leva.
Só — na treva, fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada. Cecília Meireles é uma poetiza que, apesar de se enquadrar temporalmente no movimento modernista, manteve independência e unicidade artística, possuindo importância indiscutível para a formação da literatura brasileira, contribuindo para nossa cultura letrada com uma coletânea poética rica e absolutamente singular.
O poema em questão, “Reinvenção”, chama atenção a partir do título. Dicionaristicamente, a palavra reinvenção significa “reformulação ou recriação de algo que já existe”. Portanto, sabemos que novidades não serão apresentadas, mas uma releitura de algo que já foi previamente formulado.
No primeiro verso, temos a revelação de que o objeto da reinvenção é a vida. Mais que isso, há uma expressão sine qua non: só é possível a vida se ela for reinventada.
A segunda estrofe é completamente metafórica. Ela transcende do real ao quimérico, levando o “peso da vida” e o imaginário da alma (anda o sol pelas campinas / e passeia a mão dourada / pelas águas, pelas folhas). A ilusão é ressaltada pelo eu-lírico ao fim da estrofe, quando há a ratificação da impossibilidade de experiência da vida sem a ilusão (de ilusionismo... mais nada).
As próximas estrofes trazem as imagens poéticas da luz nas trevas (vem a lua) e da liberdade (retira as algemas dos meus braços). A seguir, a imagem da ilusão vem