Análise do poema "O que há em mim é sobretudo cansaço"
O poema pode ser dividido em quatro partes lógicas (correspondentes às quatro estrofes). Na primeira estrofe (primeira parte lógica), o sujeito poético refere que se sente cansado com o que o rodeia. A causa do seu cansaço não é isto ou aquilo, nem ter feito tudo ou não ter feito nada, ele sente-se simplesmente cansado, no sentido literal. Contrariamente ao que referiu na primeira parte do poema, na segunda estrofe (segunda parte lógica do poema), o “eu” indica as razões do seu cansaço: "A subtileza das sensações inúteis, /As paixões violentas por coisa nenhuma, /Os amores intensos por o suposto alguém. /Essas coisas todas - /Essas e o que faz falta nelas eternamente -; /Tudo isso faz um cansaço, /Este cansaço, /Cansaço." (vv.6 a 13). O poeta refere coisas que todos desejam (sensações, paixões e amor) para mostrar que nem tudo aquilo que ambicionamos tem sentido.
Na terceira parte do poema, o sujeito poético compara-se a aqueles que não sentem tédio face à vida. O poeta ironiza mesmo com os que aspiram a coisas que, para o “eu”, são impossíveis. “Há sem dúvida quem ame o infinito, / Há sem dúvida quem deseje o impossível, /Há sem dúvida quem não queira nada” (vv. 14 a 16) – os que amam o infinito são aqueles que acreditam na filosofia e na religião, os que desejam o impossível são os ambiciosos e os que não querem nada são os pessimistas e os humildes. O poeta não se revê em nenhum destes ideais (“e eu nenhum deles” (v.17), achando-os mesmo incorrectos. Os versos “Porque eu amo infinitamente o finito, / Porque eu desejo impossivelmente o possível, / Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, / Ou até se não puder ser...” (vv.18 a 21) mostram que o poeta se demarca dos idealistas e que ambiciona