Análise do poema olha marília, as flautas dos pastores
Olha Marília, as flautas dos pastores,
Que bem que soam, como são cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?
Vê como ali, beijando-se, os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes
As vagas borboletas de mil cores!
Naquele arbusto o rouxinol suspira;
Ora nas folhas a abelhinha pára.
Ora nos ares sussurrando, gira.
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristeza que a morte me causara.
Este é um dos poemas líricos mais conhecidos do poeta português Manuel Maria Barbosa Du Bocage. A natureza serve de cenário para o acontecimento sentimental: “Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes”.
O amor neste poema está alegre, o eu-lírico está satisfeito em amar Marília e deseja aproveitar a manhã com ela: “Vê como ali, beijando-se, os Amores/Incitam nossos ósculos ardentes!”. É um convite, mas também uma ilustração: “Ei-las de planta em planta as inocentes/As vagas borboletas de mil cores!”
É ornamental, porque tais composições neoclássicas valiam-se de forma a exacerbar na descrição do campo. O poema é arrumado em soneto, marcado pelas regras: catorze versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Esse rigor sempre exige do poeta uma certa habilidade literária.
Segundo este eu-lírico, tudo quanto de encantador a natureza exprime quando a contempla, não teria a mesma beleza sem a sua amada, como é perceptível no terceto seguinte: “Que alegre campo! Que manhã tão clara! /Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira, /Mais tristeza que a morte me causara”.
A flauta, que faz alusão a Pan, deus que chefiava os pastores que se dedicavam além do pastoreio, à poesia, na Arcádia, região mitológica da Grécia: é daí que se origina o nome Arcadismo. A flauta está presente, como que para harmonizar ainda mais o ambiente: Olha Marília, as flautas dos pastores,