Análise do filme : O Senhor das Armas
A câmera acompanha o percurso de um projétil. Não aquele previsto pela balística, a ciência que se ocupa da trajetória da munição disparada pelas armas de fogo. É um olhar atento para a totalidade das relações sociais que antecedem a rajada derradeira, envolvendo a produção, distribuição, circulação e consumo em regiões (e situações) tão distantes entre si quanto os EUA, o Oriente Médio, a África Ocidental, o Leste Europeu e a América Latina. A bala em questão aloja-se, ao fim do percurso, no crânio de uma criança negra. Esta é uma das seqüências o ciclo de vida de uma bala de um rifle soviético 7.62x39mm que dá início ao filme O Senhor das Armas (1 ), protagonizado pelo norte-americano Nicolas Cage (Despedida em Las Vegas) e dirigido e roteirizado pelo neozelandês Andrew Niccol (O Show de Truman), em cartaz no circuito nacional.
O recurso à elipse narrativa que condensa os principais aspectos de um argumento em poucos segundos de projeção visual introduz o espectador, logo de entrada, no universo da indústria bélica. Em uma rua inteiramente coberta por balas dos mais diversos calibres, Yuri Orlov (Cage) logo dispara dados, estatísticas e cifras sobre o ramo da economia capitalista no qual atua. Existem mais de 550 milhões de armas de fogo em circulação no mundo. Isso significa uma arma para cada 12 pessoas. A única pergunta é: como armar as outras 11?, diz o personagem, o próprio retrato do anti-herói, sem demonstrar qualquer traço de consternação moral.
Yuri Orlov: do bairro imigrante ao tráfico internacional
A narração em off é feita pelo próprio Yuri Orlov traficante de armas de origem ucraniana que imigra, ainda na infância, para os EUA , que desta forma garante a epopéia do personagem, ou seja, a apresentação de sua origem, suas principais motivações e a evolução da trama. Baseado em entrevistas de cinco grandes traficantes internacionais de armas, o personagem de Cage criado na comunidade imigrante de Little