Análise do filme madame satã
Análise
Autor: Fábio Rosa
Baseado em fatos reais, o longa “Madame Satã”, de Karim Aïnouz, remonta a trajetória de João Francisco dos Santos, famoso personagem da boêmia da antiga Lapa que virou uma lenda do reduto carioca da malandragem. O longa conta a história de anos antes do personagem se tornar Madame Satã, nome inspirado pelo próprio João Francisco, baseado no filme de Cecil B. De Mille, “Madam Satan” (1930), estrelado por Josephine Baker, célebre cantora e dançarina norte-americana negra, por quem nosso personagem se dizia “devoto”. O filme não só traz a tona o cotidiano e intimidade de João Francisco, retrata a realidade da cultura marginal urbana no início do século XX.
Mostrando o Rio de Janeiro da década de 30, “Madame Satã” nos relata a violência no mundo da malandragem, simbolicamente representado pelas ruas sujas da Lapa, apresentando uma população marginalizada, capaz de recriar uma forma própria de construir a ordem social. O cenário e o personagem apresentado na obra desenham a construção das manifestações culturais populares, trazendo o como principal figura o malandro, a malandragem, a quem é atribuída as mais variadas contribuições no âmbito cultural, e o bairro da Lapa, onde prostitutas e trabalhadores, negros e brancos, pobre e políticos, se misturavam entre si, tornando-o reduto boêmio carioca, onde passavam em seus cafés, bares e prostíbulos, intelectuais e grandes nomes da música brasileira, que se perdiam em meio à sinucas, serestas e cervejas. O longa, além disso, fala do surgimento da cultura afro-brasileira que emerge no cenário nacional no momento em que o negro perde a utilidade para a sociedade, antes escravocrata.
Madame Satã, representado com louvor pelo ator Lazáro Ramos, era negro e pobre, com uma personalidade explosiva e complexa, não atrai a atenção apenas por representar a contradição de ser malandro e homossexual, quebrando a tradicional visão de ambos os estereótipos, mas também por ser resistente lutador