Análise do filme "Baraka"
A postura etnocêntrica tradicional, que considera as normas e valores da própria sociedade ou cultura como critério de avaliação de todas as demais (FERREIRA, A.B.H., 2010, p. 325), é tomada por um convite à reflexão crítica no filme “Baraka”, de Ron Fricke. Em meio a semiótica das imagens que atravessam a sensibilidade humana, o documentário nos coloca frente ao relativismo cultural inerente as diferentes civilizações, desde tempos remotos.
Ao considerar a linguagem como o meio universal da experiência, o filme retrata as diferentes formas de expressão do homem nos diversos âmbitos da vida em sociedade: danças que mimetizam o que parecem ser os movimentos da natureza, rituais de cunho espiritual e a massificação dos grandes centros urbanos, nos quais a paisagem natural dá vez aos aglomerados de pessoas que realizam movimentos semelhantes a uma grande máquina. A produção de sentido se dá, numa análise mais profunda, a partir da concepção do homem que se apropria da natureza e que por ela é apropriado. Assim, a articulação entre natureza e cultura se exprime de maneira substancial no decorrer do filme.
A subjetividade do pensamento humano e as diferentes formas de produção cultural são o ponto chave do documentário. Desde as mais variadas concepções de tempo e espaço até as mais “exóticas” expressões do corpo, somos convidados a pensar o homem como produto e produtor do meio em que vive. Além disso, o fenômeno da imersão cultural vivida nas últimas décadas cria um paradoxo entre a coesão social e a dissolução da identidade dos povos.
Diante das reflexões acerca da diversidade cultural e do multiculturalismo, vemo-nos imersos a uma realidade incontestável: somos diferentes por natureza e cultura. Portanto, faz-se necessário quebrar o paradigma etnocêntrico identificado por Montaigne: “cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra”. Desta forma, a tolerância e o respeito se tornam ferramentas