Análise do documentário onibus 174
Nas palavras de uma das reféns, Sandro foi a maior vítima da história. O que não deixa de ser verdade. Sim, culpado por um seqüestro e a morte de uma inocente. Mas ao mesmo tempo, ele é vítima de um Estado ineficiente, cujas instituições corretivas são na verdade fábricas de criminosos. Sandro é vítima também de uma sociedade que não dá a menor importância para a criança abandonada – constatação muito bem ilustrada em cenas que mostram crianças fazendo malabarismos em frente a sinais de trânsito, enquanto os motoristas fechavam os vidros dos carros e olhavam para outros lados.
Filmes como Ônibus 174 chocam. Chocam porque não estamos acostumados a enxergar a realidade. Quantos “Sandros” fazem parte do nosso cotidiano e muitas vezes preferimos fechar os olhos? As palavras do ex-secretário de segurança Luiz Eduardo Soares clareiam os aspectos mais obscuros da nossa tragédia social cotidiana: a invisibilidade que votamos aos excluídos das grandes cidades, atirados à própria sorte sem qualquer projeto governamental que os recupere para a sociedade. Parece que nossa principal riqueza, o povo brasileiro, não faz parte dos planos da nação. O seqüestrador clama pela visibilidade, quer ser visto e avisa que tudo aquilo "não é cinema, é a realidade".
Com o filme podemos perceber também o total despreparo da nossa polícia brasileira. Podemos perceber com o episódio, uma sucessão de erros, com os policiais se comunicando por gestos, muitos negociadores que demonstravam não se entenderem, falta de controle dos repórteres que transitavam no local, e uma autoridade desconhecida que emanava ordens por telefone, e impediu que a