Análise do cap. 11 - o nascimento da tragédia
O Nascimento da Tragédia, publicado pela primeira vez em 1872 e reeditado em 1886, é o primeiro livro de Friedrich Wilhelm Nietzsche. Nessa obra, o filósofo alemão apresenta não só uma interpretação da tragédia, mas da própria cultura grega do nexo entre arte e conhecimento e da época moderna. Nietzsche interpreta a cultura clássica grega como um choque de impulsos contrários: o dionisíaco − ligado à exacerbação dos sentidos, aos comportamentos extáticos e transgressores e à supremacia amoral dos instintos, cuja figura é Dionísio, deus do vinho, da dança e da música − e o apolíneo − face ligada à perfeição, à medida das formas e das ações, à palavra e ao pensamento humanos, representada pelo deus Apolo. Segundo Nietzsche, a existência plena da cultura e do homem grego, declarados pelo surgimento da tragédia, deveu-se ao desenvolvimento de ambas as forças, e o declínio da mesma ocorreu com o surgimento do homem racional, cuja marca é a figura de Sócrates, que pôs fim à afirmação do homem trágico e desencaminhou a cultura ocidental, que acabou vítima do cristianismo durante séculos. Para este trabalho, somente o capítulo 11 desse livro será considerado.
Análise do Capítulo 11
Logo no início do capítulo, Nietzsche apresenta o fim da tragédia grega que se deu a partir de um conflito insolúvel. Para compreender o conflito que culminou em sua morte, é necessário conhecer o seu surgimento. Nietzsche interpreta a origem da tragédia como uma união de dois princípios estéticos (apolíneos) e metafísicos (dionisíacos) que, ao mesmo tempo em que são opostos, se complementam. A tensão entre ambos se reflete na tragédia grega na relação entre a cena e o coro. O conflito se deu com o surgimento da nova comédia ática, um novo gênero de arte inaugurado por Eurípides.
Com o novo gênero de arte inspirado no racionalismo socrático, Eurípides suprimiu o dionisíaco, o que resultou na perda da função extática e transgressora do coro.