Análise de “A arca dos Zo’é”
No documentário, “A arca dos Zo’é”, acompanhamos Kasiripinã, primeiro videasta índio da aldeia Mariry e da área indígena Waiãpi, localizada no Amapá e delimitada pelos rios Oiapoque, Jari e Araguari, que participa do projeto “Vídeo nas Aldeias” do CTI, idealizado por Vincent Carelli, desde agosto de 1992, gravando “os primeiros registros sobre aspectos da vida política, cotidiana e ritual” (SCHULER, 32) de seu grupo indígena. Acaba conhecendo, através de imagens em vídeo, os Zo’é e decide ir para o norte do Pará, onde os Zo’é estão localizados, para gravar o encontro dessas duas culturas, a Waiãpi, que sofreram o primeiro contato com os karaiko (brancos) na década de 70 e os Zo’é que até então (1991) só tinham um contato mínimo com os brancos e que só nessa década esta relação passou a ser maior, é este um dos últimos povos amazônicos “intactos” do relacionamento entre brancos.
Neste documentário a maior diferença é a participação de Kasipinã na gravação, mesmo sendo de outra aldeia ele tem uma visão interna da cultura, fazendo perguntas mais específicas e participando da conversa durante a filmagem, não só sendo o cameraman. Kasiripinã, ao se dirigir às terras entre os rios Cuminapanema e Erepecuru habitadas pelos Zo’é, vai com uma visão genuína de interesse e com uma visão de uma cultura similar a que será documentada, tendo então o documentário do ponto de vista de um índio que deseja aprender sobre essa tribo conhecida apenas através de vídeos, sem nenhum preconceito inicial, e para isso ele convive diariamente entre os Zo’é, para entender e perguntar para os moradores locais sobre sua cultura e costumes, ao mesmo tempo em que ele faz comparações com sua própria tribo, já modificada pelo contato intenso com os karaiko. Já Dominique Gallois e Vincent Carelli gravam tentando registrar o encontro dos Waiãpi com os Zo’é sem “interferências” deles, o que é impossível