Análise de Saudação a Palmares
Negócio mais lucrativo da colônia, a escravidão movimentou toneladas de ouro com a compra, venda e troca de seu bem: o ser humano. Transportadas de maneira muito similar a como transportamos hoje cargas marítimas de alimentos ou eletrônicos, milhões de pessoas capturadas em suas casas, lavouras e templos cruzaram oceanos, partindo do continente africano, tendo como destino vários países do mundo, onde seriam obrigados a esquecerem-se de suas profissões, sua cultura, sua língua e seus títulos de nobreza, para poderem se tornar engrenagens vivas de seja lá qual máquina produtiva seus donos determinassem.
Até que se percebeu que quem não recebe salário, não consome.
Aí, iniciaram-se esforços, em diversos pontos do mundo para a abolição da escravatura, como tentativa de migrar para um novo sistema econômico que fizesse a roda da economia girar também nas colônias.
Nascido no último país independente das américas a abolir completamente a escravatura, Castro Alves fez parte do sustentáculo ideológico abolicionista. Que a análise econômica anterior à apresentação do poeta não sirva para convencer o leitor de supostas reais intenções de Castro ao defender a abolição, pois não há maneiras de comprovar tais afirmações, e muito menos qualquer interesse em determinar a intenção da pessoa do poeta, já que a análise do poema, em consonância com o pensamento de Bosi a ser mais destrinchado um tanto mais a diante, não deve se restringir a dados históricos ou bibliográficos, mas deve contemplar também a riqueza que o poema apresenta enquanto tal.
O poeta em questão foi autor de belíssimos poemas abolicionistas, como Vozes d’África, e talvez seu mais famoso Navio Negreiro, de cujo um outro poema alemão é homônimo em sua tradução: Das Sklavenschiff, de Heinrich Heine. O poema dele que analisaremos é o de nome Saudação a Palmares, apresentado a seguir:
SAUDAÇÃO A PALMARES
Nos altos cerros erguido
Ninho d'águias