Análise da prosa festança na floresta
Clarice Lispector
1. O emprego do tempo presente na narrativa - Percebe-se que, diferentemente dos próximos parágrafos da seqüência, o primeiro está no tempo presente. Mas o que isso pode significar? O tempo presente é empregado para falar do aqui e agora, do momento em que se está falando. Então, Clarice Lispector, ao iniciar o seu texto com esse tempo verbal traz o tempo passado, aproxima a história que contará para o momento em que está o leitor: tempo presente. Assim: a narrativa é o fato do passado; a leitura do conto é o presente. Ao usar o tempo presente é aproximar o tempo da história do tempo do leitor. Mas isso ocorre sem que o leitor se dê conta disso. Ele é levado a ‘vivenciar” os fatos narrados na história em razão da recorrência a esse tempo verbal. E quando, marcadamente inicia o segundo parágrafo com “Foi assim”, usando o pretérito, o leitor já está mergulhado na história pela decorrência da leitura do primeiro parágrafo, ou seja, a leitura já o absorveu, levando ao leitor do presente a “experimentar” e submergir na narrativa como se ela estivesse acontecendo aqui e agora.
2. O contexto do primeiro parágrafo – A descrição feita do ambiente envolve os diferentes sentidos: a “visão” da fogueira, dos balões que sobem; a “sensação” (tato) “do friozinho e aconchego”; a gustação das comidas – batata doce – e bebidas – o cafezinho tinindo de quente. Além dessas, da fogueira “o crepitar do fogo” estimula a audição; e o cheiro das comidas, do café referem-se à olfação. Em resumo, através da construção das imagens que não tomam apenas a visão, mas todos os outros sentidos. Logo, recorre-se às imagens da memória, vivenciadas e experimentadas por todo os sentidos, através dos quais o corpo entra em contato com a realidade. Percebe-se que a recorrência a esses elementos “resgatados pela memória visual, gustativa, olfativa, táctil” das imagens da festa, induzem o leitor a submergir-se ainda mais no enredo da narrativa, o que se soma ao