Análise crítica do filme o enigma de kasper hauser
No filme O enigma de Kaspar Hauser, o protagonista não fazia parte da esfera pública responsável pela criação e pela manutenção das regularidades que, por sua vez, ditam normas de conformidade, da conveniência da linguagem e das ações. Elas também definem o estatuto, papeis de agentes e atores sociais. Isso tudo porque Kaspar não compreendia a complexidade necessária para viver nessa esfera: ele não era detentor do código cultural vigente naquela sociedade, nem de nenhuma outra. É importante entender que Kaspar não pode ser comparado com uma pessoa do Oriente Médio tendo contato com a cultura ocidental, por exemplo, uma vez que, mesmo pertencendo a outra cultura, há nessa um código e um conjunto de regras visando a estipular o que está dentro da normalidade ou não. Com Kaspar, a construção desse código se deu praticamente do zero, assim como uma criança em seu primeiro contato com uma cultura.
Como viveu a maior parte de sua vida recluso da “civilização” e de seus signos, ele também não possuía domínio da linguagem falada ou escrita. Sua comunicação e entendimento do mundo eram baseados na comunicação pré-verbal. Ele respondia a estímulos e tinha reações sensoriais, inconscientes e instintivas. Para Santaella, as três matrizes da linguagem e do pensamento são a sonora, a visual e a verbal. Partindo-se da ideia de que a bagagem cultural de Kaspar envolvia o mínimo dessas três matrizes, fica fácil para entender a grande dificuldade que ele tinha para se adequar aos padrões da nova realidade em que estava vivendo agora. O pensamento que