Análise comparativa
Ensino Médio
Literatura
São Paulo
2011
Análise Comparativa
Eu sou Trezentos
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
Caçador de Mim
Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim
Trata-se do poema " Eu sou trezentos…".
Versos de desdobramento, considerados autobiográficos, em que MA se torna muitos, eles aludem à multiplicação das sensações, relacionam sentimentos perante a paisagem com estados afetivos, marcam pela referência uma época de sensacionismo modernista.
O poema que citamos de Mário de Andrade terá obviamente outras leituras, não deixando de ser porém um paradigma da multiplicação do Eu.
Esses versos expõem, com efeito, o autor do romance "Macunaíma" através de uma linguagem muito pessoal, de uma dicção folclórica, o qual vai falando da dispersão do Eu, utilizando a nosso ver o caminho dos segundos sentidos de que a etnografia pode dispor.
Vulgarizado em antologias do autor como poema pertencente à classe da poesia biográfica,