antropologia1
Como forma de compreender o modo como se funda e se constitui a Comunidade Linha da Cruz, busquei fazer uma análise do lugar sob uma perspectiva de suas mudanças ao longo do tempo. Este procedimento de pesquisa está de acordo com o método de análise situacional que “consiste em tomar uma série de incidentes específicos ligados às mesmas pessoas ou grupos no decorrer de um período e demonstrar como esses incidentes, esses casos, se relacionam com o desenvolvimento e a mudança das relações sociais entre essas pessoas, agindo no quadro de sua cultura e do seu sistema social” (GLUCKMAN, 1987, p.68). Assim, analisar o contexto no qual a comunidade Linha da Cruz hoje está inserida exige que os processos políticos-territoriais que marcam a história de centenas de povos e comunidades tradicionais no Brasil sejam levados em conta.
A atenção prestada à comunidade Linha da Cruz se deve ao fato de que ela hoje, através do Programa Nacional de Produção de Biodiesel (PNPB), está inserida no mercado dos biocombustíveis fornecendo à empresa Petrobrás matéria prima que seria, a princípio, destinada à fabricação do combustível. Em pesquisa de campo, nas reuniões com os técnicos da Petrobrás Biocombustíveis, a comunidade Linha da Cruz foi identificada como principal produtora de mamona da região norte de Minas – a micro região de Januária figura a maior produção regional, 36,5%, sendo 860 hectares concentrados no município de Matias.
Durante o trabalho de campo, pelo menos dois processos territoriais foram identificados para conformação da comunidade. Trata-se do processo de assentamento rural promovido pela Ruralminas em 1974, que deflagrou numa corrida pela regularização de terras e loteamento de áreas devolutas. Também identifiquei em trabalho de campo processo territorial anterior à chegada da Ruralminas, sobre o qual não há registros oficiais, mas que se mantém vivo na memória dos moradores antigos, trata-se, segundo contam, da chegada