antropologia
A alteridade como crítica da antropologia
Eugênio Pascele Lacerda
“O etnólogo deve afirmar a identidade para encontrar as verdadeiras diferenças.
Estou convencido de que uma certa forma de etnocentrismo pode ser a condição para uma verdadeira compreensão, se designarmos assim a referência à sua própria experiência, à sua própria prática e desde que, evidentemente, esta referência seja consciente e controlada. Nós gostamos de nos identificar com um alter ego entusiasmado. É mais difícil reconhecer nos outros, tão diferentes na aparência, um eu que não queremos reconhecer. Deixando então de ser projeções complacentes em maior ou menor grau, a etnologia e a sociologia levam a uma descoberta de si mesmo através da objetivação de si exigida pelo conhecimento do outro” (Pierre
Bourdieu, 1985: 59)
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TRABALHO DE CAMPO E RELATIVISMO
A alteridade como crítica da antropologia
Este é um tema com muitas entradas e ligado a debates permanentes na história da disciplina. A pesquisa de campo é o procedimento básico da Antropologia há pelo menos um século e sua literatura é vasta, comportando dimensões múltiplas que vão desde aspectos eminentemente metodológicos, até existenciais e epistemológicos
(sobre tais aspectos cf. Nunes (org), 1978; DaMatta, 1987, Cardoso de Oliveira, 1998;
Geertz, 1997). Quanto ao relativismo, igualmente, trata-se de tema filosófico, ético, conceitual e metodológico, exigindo cautela em sua reflexão (cf. Geertz, 1988; Rorty,
1991; Gellner, 1997). De toda forma, a história da disciplina confunde-se com estes temas, de modo que pensá-los criticamente significa pensar a própria identidade da
Antropologia enquanto ciência e discurso. Tomarei neste texto, um viés possível. A idéia é tentar refletir sobre como o ideal de transparência, fundador da antropologia moderna, aquele de buscar traduzir “o ponto de vista do nativo”, sofreu um processo criativo de
relativização a
partir de
transformações ocorridas
na
relação