antropologia
Leonardo Boff* //
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“Ao falar sobre tempo de transcendência é necessário começar definindo o tempo. Quero defini-lo como o grande poeta argentino, Martín Fiero, o entende. Ele diz que o tempo é a tardança daquilo que está por vir. Creio que a transcendência é, talvez, o desafio mais concreto e escondido do ser humano. Porque nós, seres humanos, homens e mulheres, na verdade somos essencialmente seres de protestação, de ação, de protesto.
Desbordamos todos os esquemas, nada nos encaixa. Não há sistema militar mais duro, não há nazismo mais feroz, não há repressão eclesiástica mais dogmática que possam enquadrar o ser humano. Sempre sobra alguma coisa nele. Porque com seus pensamentos ele habita as estrelas, rompe todos os espaços. Por isso, nós, seres humanos, temos uma existência condenada a abrir caminhos sempre novos e sempre surpreendentes.
O que é anterior e o que subjaz às expressões imanência e transcendência?
É a experiência do próprio ser humano como ser histórico, um ser que está se fazendo continuamente. É o que chamamos de experiência originária. Quando falamos filosoficamente em existência, falamos ex-istência. Estamos sempre nos projetando para fora, construindo o nosso ser. Nós não o ganhamos pronto, nós os moldamos mediante a nossa liberdade, mediante os enfrentamentos e intimidações do real.
Nessa experiência emerge aquilo que somos: seres de imanência e de transcendência, como dimensões de um único ser humano. Imanência e transcendência não são aspectos inteiramente distintos, mas dimensões de uma única realidade que somos nós.
Possuímos essa dimensão de abertura, de romper barreiras, de superar interditos, de ir para além de todos os limites. É isso que chamamos transcendência, essa é uma estrutura de base do ser humano.
A dimensão da transcendência não tem nada a ver com as religiões, embora elas procurem manipular a transcendência. Elas afirmam, Deus está na transcendência, habita uma luz