antropologia
Sylvia Gemignani. Antropologia, modernidade, Paulo, 5(1-2): sobre a tensão entre
A R T I G O
Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 5(1-2): 123-143, 1993 (editado1994). 1994).
(editado em nov. em nov.
Antropologia, modernidade, identidade notas sobre a tensão entre o geral e o particular
SYLVIA GEMIGNANI GARCIA
RESUMO: Neste artigo exploro alguns sentidos políticos do dilema entre o universal e o particular, concebido como traço distintivo do projeto moderno de uma sociedade secular, livre e igualitária. Para isso, discuto certas configurações desse dilema presentes no pensamento antropológico clássico, no pensamento político do século XIX e no debate político-cultural contemporâneo sobre o multiculturalismo e o direito às diferenças.
“O surgimento do saber antropológico confunde-se com os dilemas da constituição da própria modernidade”1. Tal colocação abre espaço para uma leitura positiva do evolucionismo social ou cultural, que seja complementar a um enfoque estritamente crítico, orientado para a exposição das inconsistências da teoria analisada que revelam, por contraste, a consistência de uma outra perspectiva teórica. O evolucionismo presta-se bastante bem a tal tipo de leitura, seja por seu idealismo, por seu materialismo, seu etnocentrismo ou sua naturalização da cultura. Não faltam equívocos evolucionistas para serem desmistificados pelo pensamento crítico. No limite, o evolucionismo social ou cultural fica fora das fronteiras das ciências sociais, “maquilagem falsamente científica de um velho problema filosófico” (Lévi-Strauss, 1980,
p. 56).
É claro que inserir a antropologia evolucionista em um contexto mais amplo, trabalhando suas ligações com a época moderna, não visa defender suas concepções, reconhecendo-a como teoria da cultura. Tal perspectiva favorece, antes, uma abordagem do pensamento evolucionista enquanto fenômeno